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Este blog tem por objetivo expressar opinões, sentimentos, conselhos e emoções, como se estivesse conversando com amigos em um café ou em um descontraído boteco.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Filhos a gente cria para o Mundo.

Sabe aquelas frases que são mais para nos enganar do que outra coisa? Exemplo clássico: você diante de uma seringa com uma baita agulha e o portador fala para você: “Não vai doer nada.”


Da mesma forma, quando seus filhos crescem e vão viver suas vidas, o que é absolutamente normal, a frase: “Filhos a gente cria para o mundo.” é a que você mais ouve. Aliás, dita por muitos cujos filhos ainda não “foram” para o mundo. Pelo menos, de quem ouvi nos últimos dias nenhum tem filho com mais idade da filha que tenho.

É verdade que nossos filhos, assim como nós já fizemos, terão em suas vidas o momento do “voo livre”. Isso é fato, eles um dia irão voar. É natural e previsível.

Então qual o motivo desse sentimento de vazio, e sendo exagerado até de perda, quando nossos filhos “voam”?

Difícil, não é? Onde está a falha nesse entendimento de um processo natural da evolução e crescimento do ser humano?

Certamente, Freud, Jung, minha mãe, minha sogra, minhas queridas tias e até o Mestre Baconi possuem suas explicações para isso.

Mas, para não deixar passar, quero aqui ensaiar minha opinião a respeito.

O problema em superar o “voar” de nossos filhos está na dificuldade de quando pais (pai ou mãe) em perceber o que chamo de ciclos da função de pai (e mãe é claro – aliás, em todo o texto quando me referir a pai estarei me referindo a função de pai e mãe).

Este então é o meu ensaio: Ciclos da Função de Pai.

A minha experiência e minhas recentes reflexões me levam a acreditar que nossa função de pai possui quatro ciclos:  O Protetor, o Formador, o Treinador e o Torcedor. Os ciclos a que me refiro iniciam no nascimento do nosso filho e vão até pelo menos o seu primeiro voo.

O Ciclo Protetor é logo quando nosso filho nasce. Você o protege de tudo. O cobre para não sentir frio, arruma o travesseiro, enche de abraços e beijos e você consegue cobri-lo com todo o seu corpo e assim protege-lo de todo e qualquer perigo. Você faz tudo para esse objetivo.

Depois quando seu filho começa a entender sua voz e também começa a falar, ou seja, inicia sua troca de informação com você passa para o Ciclo Formador. Nesse ciclo você começa a passar para ele, os “seus” conceitos de certo e errado, os “seus” conceitos de moral, cidadania, honestidade, honradez, e todos os conceitos que lhe fizeram homem e mulher.

Mais tarde, quando seu filho iniciar as tentativas de voo, tem o início do Ciclo Treinador. Aqui você já identificou alguns pontos a serem melhorados e outros a serem reforçados. Você já sabe quão talentoso é seu filho, suas aptidões e cabe agora a você diante de uma “pedra” tão preciosa, dar o seu toque de lapidação.

Entretanto, eis que é chegado o momento do nosso filho “voar” e aqui é a parte mais difícil. É o início do Ciclo Torcedor. Para mim, o mais difícil em especial pelo fato de que nos dois primeiros ciclos o Protetor e o Formador, você tem a sensação de total controle da situação.

Já no ciclo Treinador esse controle diminui, embora a maioria da vezes nós pais não a percebemos ou simplesmente a desprezamos. Mas, no ciclo Torcedor, a sua sensação de controle descobre o que verdadeiramente ela é, apenas uma sensação. Você na prática nunca teve controle. Dúvida? Me diga, seu filho quando bebezinho parou de chorar ao seu simples comando: “ô meu nenezinho, para de chorar...” Não parou, estou certo disso. É esse controle era apenas uma sensação.

E além de toda uma dificuldade em perceber o nosso correto papel em cada fase do ciclo da função de pai, ainda tem esse detalhe da revelação que a sensação de controle era só uma sensação e não uma verdade.

Como já comentei: isso é natural. Não teria graça nenhuma não sentir isso tudo. Não tem graça nenhuma a deliciosa relação entre pais e filhos seguir um manual de procedimento.

A minha experiência é capaz de separar esses ciclos, mas se um dia eu resolver desenvolver uma pesquisa mais detalhada, não conseguirei encontrar o momento exato onde como um robô eu instrua as modificações do seu “set up” emocional.

E mesmo que conseguisse isso, quem garante que nossos filhos estão vendo e vivendo esses ciclos em sincronia com os pais.

Nós quando filhos, nem sequer percebemos tais mudanças. Mas, tenho uma certeza: quando estivermos em outra vida diferente da terrena, nossos filhos pensarão em nós em todos esses ciclos. Conheço pessoas com seus pais já anjos e rogam proteção, se questionam: “ o que meu pai me diria para fazer.”, “Como é que meu pai gostaria que fizesse isso.”, “Meu pai deve estar torcendo por mim onde quer que ele esteja.”

Tudo isso para dizer que a frase “Filhos a gente cria para o mundo.”, é muito mais um consolo do que uma realidade. E como toda frase falsa, ela restringe o seu olhar ao filho.

Você criou o filho para o mundo, até aí não discutimos. No entanto, alguém já lhe falou que você está nesse mundo também?

Para uma reflexão, apresento um trecho do livro O Profeta, escrito em 1923 pelo romancista e filósofo libanês, Khalil Gibran (1883-1931), que trata sobre Filhos.

E uma mulher, com um bebê ao colo, disse:
"Fala-nos de Filhos.”
E ele disse:
“Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da aspiração divina pela vida. Vêm por vosso intermédio, mas não são de vós; E embora estejam convosco, não vos pertencem.
Podeis conceder-lhes vosso amor, mas não vossos pensamento;
Pois tem seus próprios.
Podeis abrigar seus corpos, mas não tuas almas;
Pois elas abrigam-se no amanhã, que não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procurei torná-los iguais a vós;
Pois a vida não segue para trás nem se retarda com o ontem.
Sois os arcos com o quais vossos filhos são lançados qual setas vivas.
O Arqueiro aponta na direção do infinito, e vos curva com Sua força para que Suas flechas sejam lançadas, rápidas e certeiras, para bem longe.
Ao deixar-se encurvar pelas mãos d’O Arqueiro, sede felizes;
Pois assim como Ele ama a seta que voa, ama também o arco que é estável.”

Dedico este texto à Nicolle, minha querida filha a qual sou seu Torcedor de Carteirinha.

Finalizando, uma vez me questionaram: "Sua filha é muito mimada.". Respondi: É sim, e no que depender de mim sempre será.

Beijo filha querida.

Abraço a todos.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O Pulso, pulsa?

Puxa, faz tempo que não escrevo. Well, tentarei ser mais fiel a este espaço que nasceu com o objetivo de expressar minhas opiniões sobre o dia a dia e de alguma forma ser útil para quem o ler.
E atendendo a inúmeras cobranças de um leitor, (não é a mamãe) aqui irão algumas linhas sobre a questão de "Pulso".

Afinal o que é ter "Pulso"?

No livro "O Príncipe" de Maquivel temos a seguinte citação: "...se é melhor ser amado que temido ou o inverso. Dizem que o ideal seria viver-se em ambas condições, mas, visto que é difícil acordá-las entre si, muito mais seguro é fazer-se temido que amado." Em outras palavras podemos concluir que ter Pulso é ser temido.

Será que é possível ter Pulso e ser amado? Eu entendo que não. Na minha opinião ter Pulso como representação de força e marcação de autoridade é acima de tudo uma grande ilusão.

Vejamos alguns líderes, podemos dizer de "Pulso", que surgiram na Segunda Guerra. Sem citar nomes, mas todos eram de Pulso Forte e praticamente todos ao final da guerra estavam derrotados.

Em tempos mais atuais e para continuar provocando a reflexão sobre Pulso vejam só o destaque de manchete da ESPN no início deste ano na saída do Luxemburgo do Flamengo: "Luxemburgo reclama de processo de fritura e diz que faltou pulso à diretoria do Flamengo".

Pergunto: O Pulso, pulsa? O que é ter Pulso? Ter Pulso garante que os fatos acontecerão conforme sua vontade?

Sinto muito em responder: O Pulso não pulsa. Não existe Pulso. E se você acha que tem Pulso e que isso garante a realização dos fatos conforme sua vontade, aí então, pare tudo o que estiver fazendo e procure um analista. Seu nível de frustração atingirá patamares para transformar sua vida num constante transtorno.

E aqui vou me valer da chamada licença poética e incluir um trecho de Freud, na reflexão: De que adianta você ter pulso ou acreditar que o tenha sobre algo se de repente: "a terra treme, se fende e soterra tudo que é humano e obra do homem; a água, que, em rebelião, inunda e afoga tudo; a tempestade, que sopra tudo para longe; aí estão as doenças, que apenas há pouco tempo reconhecemos como sendo ataques de outros seres vivos; por fim, o doloroso enigma da morte, para o qual até agora não se descobriu nenhum remédio e provavelmente nunca se descubra."

A vida nos impões provações e creio que a sensação é que tais provações nos fazem na prática e perder o controle, eu diria mais do que isso, na prática nos revela que não há como exercer o controle.

E a essa realidade, que de forma inconsciente, praticamos atos como uma reação, que seriam para nós a efetivação do "Pulso". E como uma droga em nosso cérebro, vem aquela sensação de bem estar... estou no comando.

Pura ilusão.

O que faz a vida valer a pena é essa constante incerteza quanto ao momento seguinte.

Você poderá ser uma pessoa que interferirá ou que servirá de parâmetro para alguém conhecido, da sua família, filhos até, e também de desconhecidos, mas nunca haverá alguém seja quem for que terá seguido a vida conforme sua vontade.

A natureza humana de cada indivíduo não permite isso.

Portanto, se você acha o "Tal" e que tem "Pulso Firme" e que tudo vai acontecer como você e seu Pulsinho acham que vai acontecer, faça o seguinte: me ligue daqui uns cinco anos e ao som do mar, tomando uma água de côco, vou perguntar: "Ei, você não leu a minha postagem: O Pulso, pulsa?"