Ressalva: Este texto não é uma crítica ou elogio ao Pastor
Deputado Presidente da Comissão de Direitos Humanos. O Pastor está no cargo atual através dos meios
legais e amparado pela Lei tem a liberdade para manifestar sua opinião, valores
e convicções assim como faço neste espaço.
Embora este texto utilize como base uma das pregações do
Pastor mais famoso do Brasil no momento, o seu objetivo é um convite a reflexão
sobre o perigo das pregações religiosas.
Feita a ressalva, vamos ao texto.
Atualmente o Pastor mais famoso do Brasil tem sido criticado
por suas convicções que conflitam com a posição na Comissão de Direitos
Humanos, afinal se espera de uma Comissão dessa pelo menos a prática da
igualdade, respeito e tolerância. Este é o seu principal fundamento uma vez que
a sociedade, e no caso estamos tratando somente da brasileira mas esse perfil é
encontrado em outras, não é plena na igualdade, respeito e tolerância. Assim,
essa Comissão tem por missão corrigir essa diferença social. Com isso, se
espera de seus líderes a execução dessa missão.
A polêmica e conflitante posição do Pastor na função de
Presidente da Comissão, tem gerado inúmeros protestos. Como também tem gerado
inúmeros novos simpatizantes. A margem da discussão dos direitos humanos o
Partido do Pastor está super contente com a polêmica, pois nunca tanto se falou
em seu nome.
Muitos brasileiros se quer lembram de sua existência. Quanto ao
Pastor, estou seguro de que se as eleições parlamentares acontecessem nos
próximos dias ele teria o triplo de votos. Aqui até lanço uma aposta. Em 2014 o
Pastor terá pelo menos o triplo de votos e será reeleito.
Entre os adversários ao Pastor tivemos a divulgação de um
vídeo de uma de suas pregações onde ele faz afirmações sobre a causa da morte
de John Lennon. Neste vídeo, o Pastor está com um corte de cabelo que para mim
leigo em características capilares tenho a impressão de que revela traços de
afro descendência. Quem já assistiu é bom rever. Repare e compare com as imagens
mais atuais.
Na sua pregação o Pastor afirma: “John Lennon chegou uma dia
diante das câmeras, bateu no peito e disse: ‘os Beatles são mais populares do
que Jesus Cristo’. Jesus não era popstar como ele, mas sim o mestre de uma
grande religião. John Lennon estava olhando pras câmeras, dizendo ‘Nós Beatles
somos uma nova religião’. A minha Bíblia diz que Deus não recebe esse tipo de
afronta e fica impune.”
De fato a declaração de Jonh Lennon feita em 1966 foi
infeliz, mas não foi como o Pastor apresentou na sua pregação, que obviamente
foi incrementada com todo o formato de uma pregação religiosa que tem por
objetivo agregar novos discípulos e segurar os que já formam a sua igreja ou
congregação.
Para o filósofo Michel Foucault em seu livro a Ordem do Discurso,
de 1970, registra: “o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de
dominação , mas aquilo pelo que se luta, o poder de que queremos nos apoderar.”
Assim formatado por seus interesses o Pastor formatou a
declaração do John Lennon da forma mais adequada a sua pregação daquele dia.
Em sua pregação ela não mencionou, pois não era do interesse do seu discurso, que
em agosto do mesmo ano, John Lennon se defendeu, durante uma entrevista em
Chicago, dizendo: "Se tivesse dito que a televisão era mais popular do que
Jesus, ninguém teria ligado. Eu só usei o termo 'Beatles' para exemplificar.
Meu comentário se referia ao que acontece na Inglaterra. Lá somos mais
influentes para os jovens do que a religião. Não era minha intenção ofender,
mas é um fato. Não quis comparar Jesus Cristo a uma pessoa, nem nada do tipo.
Fui mal interpretado".
E pela qualidade da imagem, é bem provável que tenha sido
feito antes de 2008, ano em que a Igreja Católica, através do L’Osservatore
Romano que publicou "A declaração de John Lennon, que provocou tanta
indignação nos Estados Unidos, depois de todos estes anos soa como uma bravata
de um jovem proletário inglês às voltas com um sucesso inesperado". Em 2010
a Igreja Católica “perdoa” John Lennon quanto a sua declaração.
Em que pese a frase de Lennon tenha sido infeliz era gerou
interpretações e manipulações como a do Pastor. Lennon foi assassinado em 1980 e não dias
depois de sua declaração como afirma o Pastor.
Deus matou Lennon, por castigo a sua declaração? Se eu
pensar que toda morte é um castigo de Deus, então Martin Richard de 8 anos de
idade, um dos mortos no atentado de Boston, seria merecedor da pena de morte
Divina, por qual motivo?
A afirmação de uma responsabilidade divina por uma morte é
algo infundado na própria Bíblia. Principal fonte de ensinamentos e base das
verdadeiras pregações religiosas.
A minha Bíblia diz que Deus é Amor, destaco a Primeira
Epístola de João (1 Jo 4:16) “Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para
conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele.”
Eu também aprendi que Deus perdoa sempre, os homens as vezes e a natureza
nunca.
Se Deus é misericordioso “Porque sem limites é a sua misericórdia
para conosco e eterna é a fidelidade do Senhor.” Salmo 116, então Ele já teria
perdoado John Lennon pelo menos em Agosto de 1966. Portanto, com essas
evidências não foi Deus que matou Lennon, conforme afirma a pregação do Pastor.
A canção além de linda nos convida a entender que a vida tem seus caminhos e seus mistérios. Não há explicação sobre o motivo dos fatos e não podemos querer encontrar falsas explicações na ausência da explicação verdadeira.
“Quem perdeu o trem
da história por querer.
Saiu do juízo sem
saber
Foi mais um covarde
a se esconder
Diante de um novo
mundo
Quem souber dizer a
exata explicação
Me diz como pode
acontecer
Um simples canalha
mata um rei
Em menos de um
segundo
Oh! Minha estrela
amiga
Porque você não fez
a bala parar.”
A Deus não se pode
atribuir a responsabilidade da morte de Lennon. Afirmar isso numa pregação
religiosa cristã é no mínimo uma controvérsia das suas próprias escrituras.
Ainda contra o
Pastor recaem acusações homofóbicas. Mais uma vez, parece que esta estampa do
discurso da pregação contraria as sagradas escrituras.
A minha Bíblia diz,
“Não fareis distinção de pessoas em vossos julgamentos. Ouvireis o pequeno como
o grande, sem temor de ninguém, porque o juízo é de Deus.” Deuteronômio, um dos
livros mais “jurídicos” do Cristianismo, 1:17.
O que me assusta
nas pregações religiosas é a sua tendência a segregações, fator este que
isoladamente é contrário a qualquer pregação de amor ao próximo e na crença de
um Deus que é Pai, Santo, Bondoso e Misericordioso.
O que me assusta é
o uso indevido da palavra divina apenas para conseguir mais adeptos ao seu “rebanho”.
Em 1651, o filósofo
inglês Thomas Robbes, na sua obra prima Leviatã, afirmava que da ignorância do
homem a respeito de distinguir sonhos e outras fantasias das visões e das
sensações, surgiram em sua maior parte as crenças religiosas. Nesse mesmo livro
menciona que nós homens castigávamos as bruxas em razão de falsa crença de que
eram maléficas e só faziam maldades. Note bem, em razão da falsa crença.
Thomas Robbes me
leva a refletir se as religiões existem para agrupar “exércitos” ou para de
fato para nos auxiliar a encontrar o Reino de Deus.
De 1651 para 2013
as pregações religiosas perigosas parecem ser iguais. Não queimamos os “infiéis”
em praça pública, mas os atingimos com a chama de nossas línguas e de nossos
preconceitos e tudo isso “em nome do Senhor.”
Quem sabe, um dia
iremos aprender a viver até mesmo se necessário sem religiões se elas continuarem a servir apenas para nos separar.
E assim todo líder religioso usará letras das canções de Lennon, pregando:
"Imagine todas as
pessoas vivendo a vida em paz
Você pode dizer que
sou um sonhador
Mas nãosou o único
Tenho a esperança
que um dia você se juntará a nós
E o mundo será um
só."
Paz e Tolerância
para todos.
- Dedico este texto
ao meu cunhado Tadeusz Jaworski Filho e ao meu primo Roberto Prieto por suas
ações nas Igrejas que participam e a minha Querida Tia Celina, por sua
indignação registrada no face que me inspirou a escrever este texto para ser
mais um meio de tentar evitar a intolerância e divulgar que Deus é Amor.
- Foto: disponível em
www.johnlennon.com
- Citações Bíblicas: Bíblia Sagrada 26ª Edição – Editora Vozes, 1.979, a "minha Bíblia".