Esta semana a grande maioria dos brasileiros conheceu uma
palavra escondida em nosso vocabulário: “Chicana”. A palavra pouco conhecida foi
utilizada pelo atual Presidente do Supremo Tribunal Federal o Ministro Joaquim
Barbosa e o Vice Presidente do STF, Ricardo Lewandowski
Na sessão do STF da última quinta feira, em meio ao debate
Lewandowski sugere interromper a discussão sobre o recurso do ex deputado Bispo
Rodrigues, para reiniciá-la na semana
seguinte quando então Barbosa foi contra.
“Presidente estamos com pressa de quê? Nós queremos fazer
justiça.” Argumentou Lewandowski.
“Nós queremos fazer nosso trabalho. Fazer nosso trabalho e
não chicana.” Contra respondeu o Ministro Barbosa.
Por mais estranha que a palavra possa parecer a sua
utilização aqui foi no sentido de dificultar o andamento de um processo. Apenas
isso, nada mais.
Contudo, como vivemos num momento político de dicotomia do
grupo do “bem” e do grupo do “mau” e também pelo fato de que entre os réus da
ação do Mensalão no STF estão presentes membros do grupo do “bem” a palavra “Chicana”
ganhou dimensões acima do seu significado jurídico.
E lá se foram manifestações a favor do Barbosa e a favor do
Lewandowski. Evidente que cada manifestação motivada não somente pela simpatia
mas também pela preferência política de cada um em relação ao réus do mensalão.
Afinal, se você é membro do grupo do “bem” então você pode
fazer de tudo para se perpetuar no poder.
Pode até mesmo pagar uma mensalidade
a sua base aliada. Você é do “bem” e pronto.
Aliás, essa dicotomia a qual somos sujeitos é ótima para
nossos governantes sejam eles de que partido for.
É muito comum agora nos
separar em “menos favorecidos” e “mais favorecidos”, “miseráveis” e “não
miseráveis” e também temos a dicotomia temporal: “Nunca antes na história deste
país” como se nada de bom aconteceu em nosso País nunca antes do nunca antes.
Apenas um fato antes do nunca antes: O FGTS foi criado em
1966.
Agora a discussão da “Chicana” será aproveitada por outra dicotomia
os que amam Barbosa e os que odeiam Barbosa.
E também dará oportunidade para outras entidades como a AMB –
Associação dos Magistrados do Brasil que em nota repudiou a ação do Ministro
Barbosa. No entanto, da mesma forma que a AMB critica que a atitude de Barbosa
não contribuiu para o julgamento, ela também deveria ser mais isenta e
identificar se de fato Lewandowski não praticou a “chicana” utilizando um
pseudo argumento para dificultar e prorrogar o tempo do julgamento do mensalão.
Aqui entre nós , mesmo que os membros do Grupo do “Bem” do “nunca
antes neste País” sejam condenados, duvido e até aposto com quem quiser que
qualquer um deles passará se quer 3 noites seguidas na prisão.
Enfim, o que mais preocupa não é a palavra “chicana” aliás
ela nunca fez falta para a maioria de nós no uso do nosso vocabulário, mas sim
o seu uso inadequado e nada além disso. Em uma linguagem popular de futebol “chicana”
é o mesmo que fazer “cera” só isso.
O que não podemos é aceitar que seja mais um argumento para
dispersar a atenção de nossa população que através das discussões das sessões
do STF sobre o mensalão percebeu que o País não está dividido em apenas dois
grupos e que a história do Brasil não é, nunca foi e nunca será dividida entre
nunca antes e após nunca antes.
Não podemos nos sujeitar e nos enquadrar em um dos
argumentos do Sociólogo Brasileiro Roberto Da Matta em seu livro Carnavais
Malandros e Heróis, publicado em 1978, ou seja, bem antes do nunca antes, onde
registra: “Pode-se dizer que tanto bandidos quanto malandros ou renunciadores
trazem para a luz do dia as possibilidades de realizar um caminho criativo, mas
invertido, dentro a estrutura social”.
Aqui não estamos em defesa do Barbosa ou do Lewandowski, o que
queremos é justiça, se os réus forem culpados que sejam condenados, se forem
inocentes que sejam liberados das penalidades.
Mas na minha perspectiva os réus do mensalão estão cientes
de seus atos e mesmo condenados por suas próprias consciências estou certo de
que seguirão o conselho de Maquiavel em seu Livro o Príncipe do Século XVI: “A
prudência, ela, consiste em saber-se reconhecer a extensão dos inconvenientes e
tomar por bom o que é menos ruim.”
A nossa história é muito mais rica e nosso futuro é muito
mais abrangente do que apenas uma divisão entre o que nos informam ser o “bem”
e o que nos informam ser o “mau”.
Quero dedicar este texto a um amigo que embora sua opção
política e futebolística é uma dicotomia em relação as minhas preferências para
mostrar que como seres humanos estamos acima de simples classificações, Marcos Roberto Lupis este texto é dedicado a você e nossa amizade.
Fontes de pesquisa:
- http://g1.globo.com/politica/mensalao/noticia/2013/08/barbosa-acusa-lewandowski-de-fazer-chicana-e-ministro-cobra-retratacao.html
- http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/08/1327463-associacoes-de-magistrados-criticam-joaquim-barbosa-por-discussao-com-lewandowski.shtml
- http://www.dicio.com.br/dicotomia/
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