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domingo, 21 de abril de 2013

Pregações Perigosas



Ressalva: Este texto não é uma crítica ou elogio ao Pastor Deputado Presidente da Comissão de Direitos Humanos.  O Pastor está no cargo atual através dos meios legais e amparado pela Lei tem a liberdade para manifestar sua opinião, valores e convicções assim como faço neste espaço.
Embora este texto utilize como base uma das pregações do Pastor mais famoso do Brasil no momento, o seu objetivo é um convite a reflexão sobre o perigo das pregações religiosas.

Feita a ressalva, vamos ao texto.

Atualmente o Pastor mais famoso do Brasil tem sido criticado por suas convicções que conflitam com a posição na Comissão de Direitos Humanos, afinal se espera de uma Comissão dessa pelo menos a prática da igualdade, respeito e tolerância. Este é o seu principal fundamento uma vez que a sociedade, e no caso estamos tratando somente da brasileira mas esse perfil é encontrado em outras, não é plena na igualdade, respeito e tolerância. Assim, essa Comissão tem por missão corrigir essa diferença social. Com isso, se espera de seus líderes a execução dessa missão.

A polêmica e conflitante posição do Pastor na função de Presidente da Comissão, tem gerado inúmeros protestos. Como também tem gerado inúmeros novos simpatizantes. A margem da discussão dos direitos humanos o Partido do Pastor está super contente com a polêmica, pois nunca tanto se falou em seu nome. 

Muitos brasileiros se quer lembram de sua existência. Quanto ao Pastor, estou seguro de que se as eleições parlamentares acontecessem nos próximos dias ele teria o triplo de votos. Aqui até lanço uma aposta. Em 2014 o Pastor terá pelo menos o triplo de votos e será reeleito.

Entre os adversários ao Pastor tivemos a divulgação de um vídeo de uma de suas pregações onde ele faz afirmações sobre a causa da morte de John Lennon. Neste vídeo, o Pastor está com um corte de cabelo que para mim leigo em características capilares tenho a impressão de que revela traços de afro descendência. Quem já assistiu é bom rever. Repare e compare com as imagens mais atuais.

Na sua pregação o Pastor afirma: “John Lennon chegou uma dia diante das câmeras, bateu no peito e disse: ‘os Beatles são mais populares do que Jesus Cristo’. Jesus não era popstar como ele, mas sim o mestre de uma grande religião. John Lennon estava olhando pras câmeras, dizendo ‘Nós Beatles somos uma nova religião’. A minha Bíblia diz que Deus não recebe esse tipo de afronta e fica impune.”

De fato a declaração de Jonh Lennon feita em 1966 foi infeliz, mas não foi como o Pastor apresentou na sua pregação, que obviamente foi incrementada com todo o formato de uma pregação religiosa que tem por objetivo agregar novos discípulos e segurar os que já formam a sua igreja ou congregação.

Para o filósofo Michel Foucault em seu livro a Ordem do Discurso, de 1970, registra: “o discurso não é simplesmente aquilo  que traduz as lutas ou os sistemas de dominação , mas aquilo pelo que se luta, o poder de que queremos nos apoderar.”

Assim formatado por seus interesses o Pastor formatou a declaração do John Lennon da forma mais adequada a sua pregação daquele dia.

Em sua pregação ela não mencionou,  pois não era do interesse do seu discurso, que em agosto do mesmo ano, John Lennon se defendeu, durante uma entrevista em Chicago, dizendo: "Se tivesse dito que a televisão era mais popular do que Jesus, ninguém teria ligado. Eu só usei o termo 'Beatles' para exemplificar. Meu comentário se referia ao que acontece na Inglaterra. Lá somos mais influentes para os jovens do que a religião. Não era minha intenção ofender, mas é um fato. Não quis comparar Jesus Cristo a uma pessoa, nem nada do tipo. Fui mal interpretado".

E pela qualidade da imagem, é bem provável que tenha sido feito antes de 2008, ano em que a Igreja Católica, através do L’Osservatore Romano que publicou "A declaração de John Lennon, que provocou tanta indignação nos Estados Unidos, depois de todos estes anos soa como uma bravata de um jovem proletário inglês às voltas com um sucesso inesperado". Em 2010 a Igreja Católica “perdoa” John Lennon quanto a sua declaração.

Em que pese a frase de Lennon tenha sido infeliz era gerou interpretações e manipulações como a do Pastor.  Lennon foi assassinado em 1980 e não dias depois de sua declaração como afirma o Pastor. 

Deus matou Lennon, por castigo a sua declaração? Se eu pensar que toda morte é um castigo de Deus, então Martin Richard de 8 anos de idade, um dos mortos no atentado de Boston, seria merecedor da pena de morte Divina, por qual motivo?

A afirmação de uma responsabilidade divina por uma morte é algo infundado na própria Bíblia. Principal fonte de ensinamentos e base das verdadeiras pregações religiosas.

A minha Bíblia diz que Deus é Amor, destaco a Primeira Epístola de João (1 Jo 4:16) “Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele.” Eu também aprendi que Deus perdoa sempre, os homens as vezes e a natureza nunca.

Se Deus é misericordioso “Porque sem limites é a sua misericórdia para conosco e eterna é a fidelidade do Senhor.” Salmo 116, então Ele já teria perdoado John Lennon pelo menos em Agosto de 1966. Portanto, com essas evidências não foi Deus que matou Lennon, conforme afirma a pregação do Pastor.

O cantor e compositor brasileiro Beto Guedes em parceria com Ronaldo Bastos compôs uma linda canção questionando o motivo da morte de Lennon.  http://letras.mus.br/beto-guedes/79056/

A canção além de linda nos convida a entender que a vida tem seus caminhos e seus mistérios. Não há explicação sobre o motivo dos fatos e não podemos querer encontrar falsas explicações na ausência da explicação verdadeira.

“Quem perdeu o trem da história por querer.
Saiu do juízo sem saber
Foi mais um covarde a se esconder
Diante de um novo mundo
Quem souber dizer a exata explicação
Me diz como pode acontecer
Um simples canalha mata um rei
Em menos de um segundo
Oh! Minha estrela amiga
Porque você não fez a bala parar.”

A Deus não se pode atribuir a responsabilidade da morte de Lennon. Afirmar isso numa pregação religiosa cristã é no mínimo uma controvérsia das suas próprias escrituras.
Ainda contra o Pastor recaem acusações homofóbicas. Mais uma vez, parece que esta estampa do discurso da pregação contraria as sagradas escrituras.

A minha Bíblia diz, “Não fareis distinção de pessoas em vossos julgamentos. Ouvireis o pequeno como o grande, sem temor de ninguém, porque o juízo é de Deus.” Deuteronômio, um dos livros mais “jurídicos” do Cristianismo, 1:17.

O que me assusta nas pregações religiosas é a sua tendência a segregações, fator este que isoladamente é contrário a qualquer pregação de amor ao próximo e na crença de um Deus que é Pai, Santo, Bondoso e Misericordioso.

O que me assusta é o uso indevido da palavra divina apenas para conseguir mais adeptos ao seu “rebanho”.

Em 1651, o filósofo inglês Thomas Robbes, na sua obra prima Leviatã, afirmava que da ignorância do homem a respeito de distinguir sonhos e outras fantasias das visões e das sensações, surgiram em sua maior parte as crenças religiosas. Nesse mesmo livro menciona que nós homens castigávamos as bruxas em razão de falsa crença de que eram maléficas e só faziam maldades. Note bem, em razão da falsa crença.

Thomas Robbes me leva a refletir se as religiões existem para agrupar “exércitos” ou para de fato para nos auxiliar a encontrar o Reino de Deus.

De 1651 para 2013 as pregações religiosas perigosas parecem ser iguais. Não queimamos os “infiéis” em praça pública, mas os atingimos com a chama de nossas línguas e de nossos preconceitos e tudo isso “em nome do Senhor.”

Quem sabe, um dia iremos aprender a viver até mesmo se necessário sem religiões se elas continuarem a servir apenas para nos separar.

E assim todo líder religioso usará letras das canções de Lennon, pregando:

"Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz
Você pode dizer que sou um sonhador
Mas nãosou o único
Tenho a esperança que um dia você se juntará a nós
E o mundo será um só."

Paz e Tolerância para todos.

  • Dedico este texto ao meu cunhado Tadeusz Jaworski Filho e ao meu primo Roberto Prieto por suas ações nas Igrejas que participam e a minha Querida Tia Celina, por sua indignação registrada no face que me inspirou a escrever este texto para ser mais um meio de tentar evitar a intolerância e divulgar que Deus é Amor.
  •  Foto: disponível em www.johnlennon.com
  • Citações Bíblicas: Bíblia Sagrada 26ª Edição – Editora Vozes, 1.979, a "minha Bíblia".

3 comentários:

  1. Primeiramente quero parabenizá-lo pelo blog, concordo plenamente com seus pensamentos e críticas, deixo uma citação do eterno Dr. Freud "Um homem que está livre da religião tem uma oportunidade melhor de viver uma vida mais normal e completa".

    Esse cidadão (pastor) Diz ser teólogo deve ter feito o curso EAD porque um cara sem conteúdo fala da homossexualidade sem embasamento teórico, preconceituoso sim! porque todo serhumano é preconceituoso, e para mim esta fazendo uma estrategia politica querendo ser reconhecido no Brasil para uma possível candidatura a presidência o que esta difícil se depender de mim.

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  2. Caro Sílvio, vejo em você um Profeta! O filósofo dinamarquês Kierkegaard (1813-1855), àquele que tive a oportunidade de falar à você, quando tive a honra de conhecê-lo, conta uma parábola que pode servir como uma boa ilustração para os tipos de pregadores semelhantes ao nada ilustre “Pastor”, atual presidente da Comissão de Direitos humanos. Kierkegaard conta que um circo se instalou próximo de uma cidadezinha dinamarquesa. Este circo pegou fogo. O proprietário do circo vendo o perigo do fogo se alastrar e atingir a cidade, mandou o palhaço, que já estava vestido a caráter, pedir ajuda naquela cidade a fim de apagar o fogo, falando do perigo iminente. Inútil foi todo o esforço do palhaço para convencer os seus ouvintes. Os aldeões riam e aplaudiam o palhaço entendendo ser esta uma brilhante estratégia para fazê-los participar do espetáculo… Quanto mais o palhaço falava, gritava e chorava, insistindo em seu apelo, mais o povo ria e aplaudia… O fogo se propagou pelo campo seco, atingiu a cidade e esta foi destruída.
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    De forma semelhante, nós Cristãos, falo nestes termos, pois não me identifico com um evangélico, mas um Cristão, muitas vezes, apresentamos uma mensagem incompreensível aos nossos ouvintes, talvez porque ela também seja incompreensível a nós mesmos. As pessoas se acostumaram a nos ouvir brincar tanto com as coisas sagradas, que não conseguem mais descobrir o sagrado em nossa mensagem, que muitas vezes é recebida como entretenimento. Subimos ao púlpito e pensamos que estamos no picadeiro. Por outro lado, nossos ouvintes, por não perceberem a diferença entre o palhaço e profeta, reforçam este comportamento mutante através de um aplauso até mesmo literal. Deste modo, a profecia (pregação) torna-se motivo de simples gostar ou não gostar, e o circo perde um de seus talentosos componentes.

    Parece-me correto uma conhecida afirmação de que “A demanda gera o suprimento. Os ouvintes convidam e moldam os seus próprios pregadores. Se as pessoas desejam um bezerro para adorar, o ministro que fabrica bezerros logo é encontrado.” É preciso atenção redobrada para não cairmos nesta armadilha: a pregação deve ser avaliada pelo seu conteúdo; não pelos seus supostos resultados.
    Devemos nos lembrar de que o pregador não “compartilha” opiniões nem dá suas “opiniões” sobre o texto bíblico, nem faz uma paráfrase irreverente do texto, antes, ele prega a Palavra. O seu objetivo é expressar o que Deus disse através de Seus servos. Pregar é explicar e aplicar a Palavra aos nossos ouvintes. O aval de Deus não é sobre nossas teorias e escolhas, muito menos sobre a “graça” de nossas piadas, mas sobre a Sua Palavra.
    Portanto, o pregador prega o texto, de onde provém a verdade de Deus para o Seu povo. Não creio em um Deus que seja acusador e fique a jogar cascas de banana para ver seus filhos caírem no chão. Creio em um Deus que busca se revelar através do verdadeiro e pleno Amor, e da misericórdia sem medida, assim como disse com muita propriedade nesse Blog o nosso colega Sílvio. Espero ver mais vezes, a verdade sendo dita por pessoas de bem, que procuram discernir entre o bem e o mal, e que possam abrir suas bocas para contribuir para um mundo melhor e com mais Justiça e igualdade Social. Sem a tão esperada Justiça, nunca teremos a tão sonhada Paz. A Bíblia, em minha opinião, fala de Justiça e igualdade para todos os Povos, independente de Raça, credo, cor ou status social.

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