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domingo, 7 de abril de 2013

Limbert Beltran, o condenado da tragédia de Oruro





Neste final de semana dois eventos me chamaram a atenção: o jogo da Seleção de Futebol do Brasil contra o selecionado da Bolívia e a entrevista do Sr Limbert Beltran, pai do jovem Kevin, morto no jogo do Corinthians contra o San Jose na Bolívia em Fevereiro deste ano.

Em tempo:  este texto não é um julgamento do autor ou autores da ação que resultou na morte do jovem Kevin e tão pouco um julgamento ou crítica aos torcedores do Corinthians presentes no estádio. É apenas a minha manifestação em relação ao sentimento de perda de um pai e nada mais além disso.

O jogo da Seleção de Futebol do Brasil chama a atenção pelo fato de estar sendo considerado uma partida com fins nobres de arrecadação de recursos para a família do jovem Kevin. A informação soa como algo realmente nobre da CBF – Confederação Brasileira de Futebol e a respectiva entidade Boliviana. Aliás, vários meios da mídia esportiva assim anunciaram e basta fazer uma busca na internet e encontraremos textos como: “em memória ao jovem Kevin...”, “ para ajudar a família do jovem Kevin...”

No entanto, saibam que este jogo já estava programado para comemorar os 50 anos de conquista da Copa América pela seleção da Bolívia em 1963.

No início do jogo foram feitas as devidas honras aos ex jogadores de tal conquista. 

O Kevin sequer foi lembrado com a honra e o mérito devido. Recomendo ler a publicação em:
http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2013/04/06/kevin-e-ignorado-antes-de-amistoso-e-estadio-e-tomado-por-brasileiros.htm

Agora o jogo também chamou sua atenção, pois se você também se sentiu enganado pela mídia e deve estar refletindo ainda bem que não fizeram nenhuma campanha arrecadatória na qual você movido por forte emoção teria contribuído.

E por falar em arrecadação, a Federação Boliviana de Futebol ficou com toda a arrecadação do jogo e a ela caberá a decisão de qual percentual será destinado a família Beltran. Você está novamente surpreso? 

Leia a publicação no link:
http://www.gazetaesportiva.net/noticia/2013/04/corinthians/sem-porcentagem-da-renda-garantida-pai-de-kevin-fica-indignado.html

Agora você está como o Sr Beltran, indignado. Em tese os responsáveis de forma indireta, sim, mas responsáveis pela morte do Kevin, estão utilizando o seu nome para promover um jogo de futebol, ganhar em cima disso e nem sequer estão comprometidos com a punição dos culpados ou de como está a situação emocional ou financeira da sua família.

Para o Sr Beltran: “Não é uma questão financeira, é uma questão de família, de dor, da falta que um filho faz.”

Portanto, se você se comoveu com a realização desse jogo, sinto muito, você foi enganado.

Por isso, esse jogo foi mais uma farsa do futebol, tal como a farsa da Copa do Mundo que teremos em 2014. Mas Copa é tema para futuros textos.

Além desse jogo, um outro fato foi marcante neste final de semana foi a entrevista do Sr Limbert Beltran, o pai do Kevin que junto com sua esposa e familiares são e sempre serão os únicos condenados por essa tragédia.

A entrevista foi apresentada pelo Jornalista Flávio Prado na rádio Jovem Pan AM neste domingo. A íntegra está em:
http://jovempan.uol.com.br/esportes/futebolnacional/2013/04/pai-de-kevin-fala-do-amistoso-da-selecao-do-filho-e-das-investigacoes-do-caso.html

Só tenho uma palavra sobre a entrevista: EMOCIONANTE.

Para começar, o Kevin não era assim um torcedor fanático do San Jose, mas apreciava o time pois era a cidade natal de seu pai, distante em tempo, cerca de 5 horas de sua casa. Kevin era fã do futebol brasileiro e queria aproveitar a oportunidade de ver o Pato.

Sabe, foi difícil conter as lágrimas ao ouvir o pai do Kevin dizer que não o abraçou o filho ao sair para o jogo e apenas recomendou que se cuidasse. Afinal é um rapaz, e em geral não temos essa mania de beijar e abraçar nossos filhos homens, sendo você o pai. E também não está aqui nenhum julgamento de valor, se deve ou não beijar, abraçar. Eu beijo o meu pai e por vezes amasso a minha filha. No entanto, esses atos são independentes de julgamentos e representam muito para mim. 

Para o Sr Limbert, dizer “se cuida” pode ter sido muito mais que um abraço. Nenhum pai olha para um filho com um olhar de última vez. Olhamos nossos pais e nossos filhos com um olhar de quero ver muitas vezes.

Entretanto, para o Sr Limbert foi a última vez que olhou seu filho. E aqui a sua consciência trava uma batalha incomoda e de culpa por não ter sabido ser a última vez, mas também no fato de ter permitido o filho ir. O questionamento é que se tivesse sido mais rigoroso na negativa da permissão de ir, o seu filho não teria morrido.

Porém, não haviam motivos para negar esse pedido do filho. Afinal ele era um bom rapaz, responsável, amante de sua família, estudioso e dava ao pai perspectivas de um futuro brilhante. O pai certamente o olhou como um jovem responsável a iniciar seu próprio caminhar e não mais como uma criança que era até pouco tempo atrás. Como negar o pedido de um filho assim?

Por vezes nos sentimos culpados por ações e decisões de nossos filhos. Nos consideramos totalmente responsáveis pelas consequências da decisões que eles tomam, como coisa que de fato pudéssemos mesmo traçar seus destinos.
Contudo, isso é um grande engano que cometemos. Já comentei que não há força de um pai sobre um filho capaz de alterar sua decisão e de muito menos evitar as consequências dela.

Tem momentos que só nos resta torcer pelo sucesso deles e que sobrevivam para contar suas conquistas.

Mas reconheço, é difícil não se culpar no papel de pai em situação como essa. A nossa mente parece estar nos culpando, mas na verdade está é tentando achar uma alternativa para um sentimento de conforto diante de um trauma. E daí ficamos martelando: “... e se eu...”.

Para o Jornalista Flávio Prado, com quem concordo, a morte do garoto Kevin é apenas mais uma. E particularmente completo: não será a última.

Os suspeitos estão presos provisoriamente, destacando que a Justiça Boliviana tem prazo de 6 meses para acusação, no Brasil esse prazo é de 30 dias, e já há movimentação até de políticos brasileiros para a sua libertação ou ao menos melhor tratamento na prisão.

Demore ou não, logo estarão soltos, como também solto estará o verdadeiro autor do disparo e soltos também estarão todos os torcedores irresponsáveis.

Condenado mesmo, somente a família Beltran, restando ao Sr Limbert a sentença: trocar as flores no túmulo do seu filho.

Dedico este texto a família Beltran, a memória de Kevin e ao Jornalista Flávio Prado pela sensibilidade no trato deste trágico acontecimento.

Foto:  Corpo do jovem Kevin Douglas Beltran Espada por Jornadanet.com /APG
Links:
  • http://jovempan.uol.com.br/esportes/futebolnacional/2013/04/pai-de-kevin-fala-do-amistoso-da-selecao-do-filho-e-das-investigacoes-do-caso.html
  • http://www.gazetaesportiva.net/noticia/2013/04/corinthians/sem-porcentagem-da-renda-garantida-pai-de-kevin-fica-indignado.html
  • http://www.gazetaesportiva.net/blogs/flavioprado/2013/02/21/punicao-nem-pensar/

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