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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Boate Kiss, a continuidade da negligência.


A tragédia na Boate Kiss, em Santa Maria no Rio Grande do Sul será mais uma onde os culpados mesmo se julgados e condenados jamais pagarão suas penas e o evento como um todo em nada modificará a situação de descaso e negligência de muitos com a vida alheia.

O principal objetivo de uma legislação penal é mostrar para a sociedade as restrições aplicadas a quem comete o crime. Porém, a realidade no Brasil com uma justiça morosa e leis complexas permitem aos autores de crimes uma total isenção. Assim a mensagem passada para a sociedade através desses eventos é uma só. Cometa o crime que quiser, pois nada sofrerá.

Agora as diversas autoridades com responsabilidades sobre vistoria e edificações da cidade de Santa Maria estão fazendo duas coisas: uma é procurar evidências de que não tinham responsabilidade sobre o evento e a segunda coisa é encontrar um meio de transferir a culpa para outra autoridade.

Além disso, será feita uma grande investigação e ao final vão confirmar boa parte estava dentro da legislação e o que não estiver dentro da legislação possuía algum documento legal temporário ou estava coberto por algum recurso de tolerância.

Enfim, nada será diferente de outros eventos trágicos. Só lembrando alguns:
  • Bateau Mouche, embarcação que naufragou em Dezembro de 1988 no Rio de Janeiro, com capacidade para 65 passageiros, estava com 142 e destes 55 morreram. Os donos da embarcação foram condenados no Brasil com regime semi aberto, fugiram do país e nunca tiveram problemas.
  • Edifício Palace II, construído pela Sersan do Sergio Naia (morreu e não pagou pena alguma). O Palace desabou em 1998, matando 8 pessoas.
  • Caneco Mineiro em Belo Horizonte, incêndio em 2011 com 8 mortos. Em circunstâncias semelhantes ao da Kiss.

Também será realizado um super laudo com a obvia conclusão de que havia no local muito material inflamável e uma série de fatores contribui para a tragédia.

Aliás esse negócio de série de fatores é uma grande conversa mole. O que ocorre não é uma série de fatores. A causa da tragédia é o “falta um”.  Esse tanto de série de fatores ficam gritando em côro; “Falta um”, “Falta um”, “Falta um”... aí um vocalista de fandangueiros atende ao chamado, realiza o “Falta um” e nisso  a Mrda tá feita.

E nem quero aqui entrar no mérito da análise da individualidade do autor do “falta um” no caso da Boate Kiss. Ele sabia muito bem que estava em local propenso ao fogo e que tinha na mão um meio de por tudo para queimar.  No entanto, a sua individualidade transmitia a seguinte mensagem: material inflamável mais fator desencadeador de fogo é igual a situação normal e sem risco de incêndio. Mas, a individualidade desprezou a lei da física e aí, vem a o argumento do vocalista: “Sim usei o sinalizador, mas não foram suas faíscas que provocaram o incêndio.” Tá legal, foram as faíscas do meu chuveiro que provocaram aquele incêndio.

Quantas pessoas em situação de risco fazem aquela famosa  afirmação: “Deixa comigo que eu garanto.”, não é?
De alguma forma, esse “deixa comigo” é praticado por muitos e se você tiver o azar de estar perto de algum desses que “se garantem” e o ato dele for o atendimento ao chamado de “Falta um” da série de fatores, então, “bau, bau” ...

Agora voltando para a culpa e responsabilidade a tragédia de Santa Maria, confirma a conclusão de todas as tragédias anteriores, que é a condenação sumária a morte e a dor de pessoas que cometeram, sem perceber, a falha de estar no lugar errado na hora errada.

Eu que estou em particular momento de alta sensibilidade paterna e já havia sentido na morte da Emmy Whinehouse, como se ela pertencesse a minha família, e olha que nem sou fã, não consegui segurar o choro ao ver fotos de jovens mortos com média de idade de serem meus filhos. Também não consegui ler além das manchetes de chamadas às declarações dos pais das vítimas que morreram. 

Eu nunca estive em Santa Maria, mas sinto a dor desses pais e em meu sonho da noite de domingo para segunda via imagens que faziam lembrar o ginásio do velório coletivo.

O fato mais desagradável é saber que esta não será a última tragédia provocada por negligência e desprezo ao ser humano. Nos resta apenas torcer para que o intervalo entre esta e a próxima tragédia seja o mais longo possível.

A todos os pais, amigos, conhecidos e familiares das vitimas de Santa Maria um abraço solidário deste anônimo e minha dedicatória deste texto.

Foto obtida em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/galeria/2013-01-28

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