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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Cinzas





As religiões cristãs e com destaque no Brasil, a Católica, tem em suas escrituras sagradas, no caso, a Bíblia, registro do dia de Cinzas como um convite a vida humilde e de simplicidade.  No Livro de Jó: “Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza” Jó 42:6. “Lançou-me na lama e fiquei semelhante ao pó e a cinza.” Jó 30:1, são algumas citações que remetem a simplicidade na figura das Cinzas.

A Liturgia Católica, no Antigo Testamento tem várias menções do dia de Cinzas como o início do período de preparação para a Páscoa, e nesse período a penitência e conversão a Deus.
Além disso, a Igreja Católica inclui nas suas reflexões no dia de Cinzas, e que embora em minha opinião não é a ideia de humildade, a proposta da lembrança que somos pó e ao pó  retornaremos. A citação muito mais em torno de repreensão por conta do “pecado original” está em Genesis:  “Comerás o  teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e em pó te hás de tornar.” Genesis 3:19.

Mas, mesmo não sendo a principal ideia da Quarta de Cinzas, a citação de “és pó, e em pó te hás de tornar” é sem dúvida a de maior impacto em termos de provocação de reflexão.
Se todos voltaremos a ser pó, qual o sentido do intervalo entre nossas fases de “pó”? O que é esse intervalo? O que devemos ser, fazer, sentir? De que valerá esse período para nós e para outros?

Ainda em Jó uma provocação “Para uma árvore, há esperança; cortada, pode reverder.” Jó 14:7 “Mas quando o homem morre, fica estendido;  mortal expira; onde está ele?” Jó 14:10.

Não há muito o que discutir. De forma racional a escrita em Jó “mortal expira” é talvez a melhor conclusão, de que na prática nada somos. Aliás, nunca fomos e nunca seremos.

E por melhor que você se considere nesse período entre as suas fases de pó, onde está a certeza de que você foi de fato o melhor que poderia ter sido. Ai fica a pergunta: O que é ser o melhor nesse intervalo?

No período em que estamos “vivos” temos a impressão de que todos que convivem conosco neste mesmo tempo são muito semelhantes a nós. Assim, se somos o que consideram com pessoa do bem, entendemos que a maioria assim também é. Nossa forma de pensar sobre os outros é fortemente influenciada por aquilo que somos. E assim com essa nossa visão míope  quando somos vítimas de situações opostas, nosso sentimento de desilusão é muito forte e por vezes nosso pranto e sofrimento simplesmente não acabam.

Somos é muito frágeis nesse período entre “pós” e mais do que isso, pensamos que nunca teremos fim. Essa formatação de pensamento que nós é imposta não nos permite entender o verdadeiro significado da pré fixação do encerramento do nosso período e nos leva ao desperdício do precioso tempo que nos foi dado.

Quando vemos notícias de morte, como o que ocorreu no Sambódromo na Cidade de Santos, onde uma das vítimas que estava em frente a sua casa, curtindo o desfile é atingida pelos fios de alta tensão e morre na hora, fica um enorme ponto de interrogação e uma forte provocação do sentido da vida. Essa vitima tinha 19 anos e com certeza muito sonhos. Para onde foram esses sonhos?

No noticiário não há menção sobre a opção religiosa dessa vitima, o que na prática não fez diferença quanto ao momento de sua morte. A impressão é de que mesmo super religiosa, não teria tido direito a prorrogação, e por outro lado se nem um pouco religiosa, o fato não foi uma antecipação de sua morte. 

Enfim, parece que a opção religiosa não lhe dará vantagens quanto ao momento de morte.

E não só isso, também não há menção sobre o seu comportamento e índole. Tenha sido ela boa ou má pessoa, teria morrido ali, naquele momento nem mais, nem menos.

Assim, se não há influência nem de religião e nem de índole, de que vale ser bom e religioso?

Essas questões sem respostas aparentes ou contundentes permitem espaços para inúmeras respostas e justificativas. Algumas fanáticas, outras céticas.

Eu me questiono muito quanto a isso, e não achei nenhuma resposta convincente o suficiente, mas, em uma conversa sobre músicas com minha amiga a Marta Cardoso,  ela mencionou a canção do grupo Pearl Jam, “I am mine”, e sem ela perceber, naquele instante meus pensamentos viajaram na Filosofia onde encontrei uma alternativa nesse espaço de dúvidas sobre o que é isso que está no intervalo entre nossas fases de pó.

Em uma tradução livre destaco o intrigante trecho:

“Eu sei que nasci e eu sei que morrerei”
“O entre essas duas coisas, é meu”
“Eu sou meu”

Assim, minha vã filosofia, me leva a concluir: O que você faz nesse intervalo de “pós” não é de ninguém, não é para ninguém, é somente seu. Poderá ocorrer de ser útil para alguém, mas isso será um fato adicional, mas não o principal. Mesmo que você decida dedicar todo o seu intervalo para outros, ele será em essência somente seu.

  • Registro aqui um abração para a Marta Cardoso.
  • Foto extraída em www.arquidiocesebh.org.br
  • Citações bíblicas, Bíblia Sagrada da Editora Ave Maria, 26º Edição.

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